quarta-feira, 4 de julho de 2007

VAMOS LER PAULO LEMINSKI?

Paulo Leminsk



Bio-Bibliografia


1944, Curitiba, Paraná, 24 de agosto, nascimento de Paulo Leminski Filho. Filho de Paulo Leminski e Áurea Pereira Mendes Leminski
1964, São Paulo, SP, publicação de poemas na revista Invenção, porta voz da poesia concreta paulista.

1968, casamento com a poeta Alice Ruiz. Filhos: Miguel Ângelo, falecido aos 10 anos; Áurea Alice e Estrela.

1970/1989, Curitiba, Paraná, redator de publicidade. Músico e letrista. Canções gravas por Caetano, A Cor do Som.

1975, Curitiba, PR, publicação de Catatau, um romance experimental.

1980/1986, São Paulo, colaborador do suplemento Folhetim, do jornal Folha de São Paulo; também colaborador da revista Veja.

1984/1986, Curitiba, PR, tradutor de Alfred Jarry, James Joyce, John Fante, John Lennon, Samuel Becktett e Yukio Mishima

1986, São Paulo, SP, publicação do livro infanto-juvenil Guerra dentro da gente.

1989 – Curitiba, PR, 07 de junho: morte.

Paulo Leminski foi um estudioso da língua e cultura japonesas e publicou em 1983 uma biografia de Bashô. Sua obra tem exercido marcante influência em todos os movimentos poéticos dos últimos 20 anos.

O QUE GOSTO MAIS DE LEMINSKI

[quando eu tiver setenta anos]

quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta adolescência

vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência

vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito

vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito

então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência

PAULO LEMINSKI


Apagar-me


Apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme.


Bem no Fundo


No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.


Eu


eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora

quem está por fora
não segura
um olhar que demora

de dentro de meu centro
este poema me olha


Incenso Fosse Música


isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além


1.

lembrem de mim
como de um
que ouvia a chuva
como quem assiste missa
como quem hesita, mestiça,
entre a pressa e a preguiça

2.

já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo

morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma

morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma

3.

um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegando atrasado
andasse mais adiante

carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha

ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra

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